MAMA ÁFRICA – PARTE 2
Minha rotina é assim: da casa pro hospital, do hospital pra casa. Ajudo na farmácia, no pré- natal, vacinação, no administrativo e em tudo mais que precisarem de mim. Trabalho é o que não falta por aqui…
Não me atrevo muito a sair sozinha, pois além do meu francês estar bem meia boca, outro dia, resolvi dar um passeio com o Christian, um menino órfão cujas freiras adotaram sua educação.
Caminhávamos até o centro. Avistei um bosque de eucaliptos bem bonito e resolvi parar, comprar um refresco de malte pro garoto e descansar um pouco para a volta. Em menos de dois minutos apareceram duas mulheres, chamando o menino de lado. Cinco minutos mais e, mais de vinte pessoas estavam no rodeando. Tudo muito rápido.
Comecei a perguntar quem falava inglês pra me explicar o que estava acontecendo. Arrancaram bruscamente a garrafa de malte dele e todos falavam ao mesmo tempo. Descobri que estavam achando que eu era traficante de crianças, apontavam para minha tatuagem no pulso como sendo um sinal do demo ou algo parecido. Minha sorte é que eu já tinha um celular, liguei paras freiras do hospital e elas vieram nos resgatar. Ufffa…que sufoco!
Já deu pra sentir que ser branco por aqui, não é nada agradável. Saio na rua e escuto o tempo todo: “Hey branca! Hey branca!”. Rola mesmo um preconceito. Deve ser porque branco é rico e já aprontou muito nesse continente.
Em Camarões, não há mestiços como em outras regiões da África. Brancos por aqui, são missionários europeus, diplomatas ou albinos.
Não dá para passar desapercebida por aqui e curioso: meu cabelo é a sensação. Sempre perguntam se é de verdade, já que mulherada aqui usa peruca e umas das mais procurada é o tal “cabelo brasileiro”.
Entendi, está dado o recado. Percebi que é melhor sair acompanhada pelas freiras ou padres. Aproveito quando eles saem para comprar alimentos ou mesmo em missões.
E lá fui eu, agora acompanhada, com destino a Bartouri, cidade que fica a 360 km de Yaounde, minha base.
Acreditem, foi uma jornada de dez horas até o destino final (seria bem menos tempo se a estrada fosse pavimentada, é pó prá tudo quanto é lado). Já na ida esperamos 4 horas até o ônibus sair. Perguntei o porquê, se já tínhamos a passagem comprada e tudo mais. O que rola é que, se o ônibus não enche, não sai…hahaha…então só nos restou esperar! Todo mundo entulhado e com o som no ultimo volume. Primeira parada: Bertoau. Embarcamos agora em uma van lotada e sem janelas, que nos levou por mais cinco horas, numa estrada de terra…infinita.
Aventura das mais roots. Chegamos pela manhã e fomos recebidas por lindas crianças de um jardim da infância de Batouri.
Valeu demais a jornada: pelo céu estrelado, pela estrada infinita, pela magia que existe no SIMPLES da vida, como me mostraram a pequena Belina e seu amigo florista…
Paula Scarpato – relações públicas de formação, 35 anos, aquariana, com ascendente em leão e lua em sagitário… essa sou eu!!! Após 12 anos atuando em mercado fonográfico e publicitário, resolvi partir para uma experiência que ninguém poderia vivenciar por mim: pedi demissão de meu cargo de Gerente de Marketing. O destino escolhido foi a África, com a missão de trabalhar para os mais necessitados. E assim fui.